Um sonho...
A jornalista MAYRA MALDJIAN viajou a convite do Fronteiras do Pensamento
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Fonte:folha.com
Com frio na barriga, Vinícius Moreno da Silva, 12, não tirava os olhos do tabuleiro. A ansiedade tinha nome, e era em russo. Do outro lado da mesa estava ninguém menos do que Garry Kasparov, 48, um dos maiores jogadores de xadrez de todos os tempos.
Dos 20 adolescentes que enfrentaram o mestre na partida simultânea realizada no início do mês em São Paulo, Vinícius deu mais trabalho.
"Mais ou menos no sétimo lance, o Kasparov ficou um minuto e 18 segundos na minha frente, pensando. Imagina, o melhor enxadrista do mundo!", comemora.
Alexandre Rezende/Folhapress |
Kasparov, o maior jogador de xadrez da história, disputou 20 partidas simultâneas com alunos das escolas municipais de São Paulo |
"Vimos que era possível resgatar os alunos com problemas de nota e comportamento por meio do xadrez", conta o professor Rubens Rigonati, da Escola Municipal Bartolomeu Lourenço de Gusmão, uma das mais empenhadas.
"Se o aluno vence no tabuleiro, ele se sente capaz de vencer em qualquer outra coisa na vida. Esse é o trabalho de autoestima que a gente quer fortalecer", conclui.
Igor Jhonatan, 13, é um dos "recuperados" e, hoje, já representa a escola em campeonatos. "Eu era muito bagunceiro e ia mal, agora me achei no xadrez. Consigo me concentrar e raciocinar melhor."
O psicanalista Italo Venturelli incentiva também a prática nos cursinhos pré-vestibulares: "com o xadrez, o homem se acostuma a raciocinar sob pressão", explica.
De olho nesse movimento, Kasparov, que já se envolveu em política e se aposentou dos tabuleiros em 2005, quer trazer ao Brasil a metodologia de ensino da Kasparov Chess Foundation, criada há nove anos nos EUA, e que hoje coloca a molecada para aprender no computador.
"Já existem programas de xadrez muito grandes na capital paulista, mas eles precisam de manuais de qualidade e do apoio de professores especializados", explica o mestre à imprensa no seminário Fronteiras do Pensamento, em Porto Alegre.
Como braço direito nessa missão, Kasparov conta com Giovanni Vescovi, 33, heptacampeão brasileiro e atual líder do ranking brasileiro e sul-americano. Com a esposa, Deise Lemos, 32, ele implementou oficinas no colégio onde a filha Katherine, 12, estuda. Além do pai, ela tem como ídolo Kasparov, é claro.
"Desde pequeno, mesmo sendo de um país menos desenvolvido, ele conseguiu se destacar em uma coisa, e isso foi muito bom para ele", avalia a garota, atual campeã brasileira na categoria sub-18.
Por aqui, o xadrez tem vivido dias de glória. Depois de Kasparov, São Paulo recebe, nesta semana, o Grand Slam de Xadrez, circuito de torneios internacionais do qual participam, entre outros, o norueguês Magnus Carlsen, 20, líder do ranking, e o indiano Viswanathan Anand, 41, atual campeão mundial.
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